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O mountain biking precisa do Rampage. Precisamos do espetáculo. Precisamos do drama. Precisamos de eventos que incorporem as raízes pioneiras e caóticas da nossa modalidade. Mas também precisamos que o Rampage evolua.

 

Quando o freeride começou, abarcando truques aéreos mais técnicos, as linhas do Rampage começaram a fazer germinar lips e pousos mais elaborados. Então, evoluindo novamente, enormes features de madeira passaram a ser favorecidos, mudando as linhas e o sabor do Rampage. E quando esses features saíram de moda, o Rampage voltou à terra, para novo visual e sensação.

 

E agora o Rampage está evoluindo novamente.

 

 

No caso de você viver isolado do mundo, 2024 é o primeiro ano em que mulheres competirão no palco definitivo do freeride. Mas esta não é, nem de longe, a primeira vez em que mulheres fizeram parte do legado do freeride. Lendas do mountain biking como Carys Evans e Missy Giove estavam marcando presença desde que o termo foi emprestado do esqui. E então, recentemente, houver uma forte aceleração na autenticidade e visibilidade do freeride feminino.

 

Ninguém sabe disso melhor do que Katie Holden, que foi uma força por trás da expansão histórica da lista de participantes do Rampage deste ano. Pioneira do freeride, Holden ajudou a criar a Red Bull Formation, uma série de eventos de freeride femininos realizada nos mesmos penhascos dos eventos Rampage de 2008 a 2013. Ali, seis freeriders prodigiosas e suas equipes de escavação construíram novas linhas, ressuscitaram antigas e mandaram ver com estilo espetacular. Isso foi em 2019, e muita coisa aconteceu desde então.

 

"2019 foi, no geral, um grande ano", conta Holden. “Foi quando Vero Sandler fez seu filme Vision e Casy Brown foi a primeira mulher em Proving Grounds. Então teve a Formation."

 

 

A Formation não foi criada como uma competição. Ela era uma maneira para as mulheres aprenderem as manhas do Rampage e muito mais no processo. "A Formation deu às pessoas a oportunidade, as ferramentas e os recursos para se sobressair naquele ambiente específico, mas também um lugar para compartilhar conhecimentos", Holden explica. "Então, aós 2019, foi como se uma chave fosse ligada".

 

Nos anos desde a primeira Formation, categorias femininas foram acrescentadas a uma quantidade crescente de eventos adjacentes de slopestyle e freeride. Mulheres foram convidadas a mostrar suas habilidades nos saltos monolíticos de Dark Fest e Nines, nos canhões de alta velocidade de Hardline e, por fim, no próprio Rampage. A Red Bull está pagando às competidoras as mesmas taxas de apresentação que aos homens, e dando a elas o mesmo pacote de prêmios. Essa é a coisa para valer.

 

As mulheres começam na quinta-feira, 10 de outubro. Embora cada percurso do Rampage pode durar apenas dois minutos, o evento em si geralmente ocupa um dia inteiro. A logística para filmar e julgar exige tempo extra entre as exibições. E precisa ter alguma folga, caso as competidoras tenham de esperar um vento mais forte amainar. É por isso que a Red Bull decidiu dedicar um dia inteiro para o Rampage feminino. Na verdade, ela dedicou um local inteiro. Leva mais um dia para o circo inteiro levantar acampamento e ser levado para o evento masculino, que será realizado no sábado seguinte.

 

 

Dito isso, oito mulheres ciclistas estarão competindo, e a Shimano tem o orgulho de apoiar três delas: Vaea Verbeeck, Vinny Armstrong e Robin Goomes. Todas também apareceram no último filme de MTB imersivo da Anthill Films, Anytime, que destaca algumas das melhores mountain bikers de freeride redefinindo as fronteiras da modalidade. Desempenhando um papel importante do movimento de freeride feminino na tela com o Anytime, Vaea, Vinny e Robin agora têm em vista outro importante passo à frente para o freeride feminino no Rampage. Conversamos com elas sobre onde elas têm estado, aonde estão indo e, é claro, quem está em seu time de escavação.

 

Vaea Verbeeck

A primeira mountain bike de Vaea Verbeeck foi um modelo de downhill. E sua primeira competição foi em um campeonato nacional júnior - em Mont-Sainte-Anne, nada mais nada menos - onde há muitas pedras e pouca fluidez. Mas isso não deve ter sido problema, pois ela terminou em segundo lugar naquele dia. Na década que se seguiu ela se tornou uma participante-chave na Copa do Mundo de Downhill, mas seus dois títulos seguidos no Queen of Crankworx podem representar melhor a abordagem de Verbeeck da modalidade.

 

A atleta Shimano Vaea Verbeek competindo no Red Bull Rampage feminino de 2024
A atleta Shimano Vaea Verbeek competindo no Red Bull Rampage feminino de 2024

 

"Desde o início eu me vi mergulhada na cultura das competições de downhill", conta Verbeeck. "Mas eu comecei a ver competidoras trazendo charme e estilo. E saindo de uma bike de downhill para montar em uma saltadora de terra." Adotar essa abordagem ajudou Verbeeck a conquistar suas coroas do Crankworx, levando ouro no slalon duplo, DH aéreo e downhill tradicional. "É bom poder priorizar o que lhe dá mais felicidade em uma bike", diz Verbeeck.

 

Recentemente, isso significou enfrentar os enormes saltos do Dark Fest, mandar ver nos gaps angustiantes do Hardline e juntar-se às atletas pioneiras da Formation e logo chegar ao Rampage. Mas uma linha de saltos feita à máquina não é o mesmo que os penhascos brutos de Virgin, Utah. "Em features como os do Hardline, você pode ver alguém passar por eles. Então é só uma questão de teoria. Onde está a verificação de velocidade? Ou ponto de frenagem? Ou o quanto arremeter? Verbeeck explica. "O Rampage vai ser um jogo totalmente diferente."

 

A atleta de MTB Shimano Vaea Verbeek fazendo uma manobra sem as mãos na sua mountain bike no Red Bull Rampage feminino.
A atleta de MTB Shimano Vaea Verbeek fazendo uma manobra sem as mãos na sua mountain bike no Red Bull Rampage feminino.

 

Para ajudar a preparar o campo, Verbeeck escolheu uma equipe de escavação de jovens novatos. "Eu queria que todo o meu conceito fosse sobre o crescimento promissor do evento e da modalidade. Por isso, para meu time de escavação, eu trouxe alguns ciclistas aspirantes ao Rampage." Em outras palavras, o britânico Jim Monroe e o nativo de Utah Aiden Parish. "Ambos estão com vinte e poucos anos ou menos". Verbeeck acredita que cada um deles tem o potencial de competir algum dia, mas o terceiro escavador pode ter uma vantagem inicial. "Eu também tenho Georgia Astle. Ela é uma amiga de longa data e, na verdade, está na lista alternativa. Então espero que ela entre por si mesma, mas se isso não ocorrer, quero que ela tenha o máximo possível de experiência prática com o Rampage."

 

Fiéis a seu estilo, Verbeeck e sua equipe estão buscando montar um percurso diversificado e bem desenvolvido. "Eu adoraria que minha linha fosse exatamente como eu gosto que as coisas sejam, cheias de variedade. Eu quero que ela talvez use o terreno e seja criativa em um feature de pedras ou salte por uma cumeeira. Eu adoraria que ela tivesse algum fluxo de alta velocidade, para que eu possa trazer alguns features de maiores dimensões." Verbeeck parece pronta para o que quer que seu time encontre lá fora. "Vamos ter de ver o que poderemos inventar, mas fico muito empolgada em falar sobre ela, o que é um sinal realmente bom.

 

Vinny Armstrong

Não vamos fazer previsões sobre quem estará no topo do pódio quando a nuvem de poeira laranja deste ano assentar, mas achamos que Vinny Armstrong seja uma forte concorrente ao Rampage People’s Choice Award. Certamente ela já frequentou muitos pódios de eventos de corrida e freeride em todo o mundo. Mas ela é, provavelmente, mais bem conhecida por seu estilo sem esforço. Armstrong pedala do jeito que todos nós desejaríamos poder. Ela faz tudo parecer fácil.

 

A atleta de freeride da Shimano Vinny Armstrong saltando com sua mountain bike de downhill no Red Bull Rampage feminino de 2024
A atleta de freeride da Shimano Vinny Armstrong saltando com sua mountain bike de downhill no Red Bull Rampage feminino de 2024

 

Originária de Auckland, Nova Zelândia, Armstrong começou a pedalar mountain bikes muito jovem, fazendo regularmente viagens de fim de semana ao parque ciclístico com seu irmão, Sam. Ele ficava a umas poucas horas de Rotorua, onde ela mais tarde desenvolveria um recorde impressionante nas competições de DH. Mas o evento que a revelou foi o Crankworx Whip-Off. Nos últimos anos, Armstrong tem sido quase imbatível no circuito de "ficar de lado". É uma delícia ver aquele estilo todo próprio em plena exibição. Talvez seja por isso que Armstrong tenha chegado a alguns cortes altamente cinemáticos ultimamente.

 

É realmente divertido, porque eu tenho total controle criativo", fala Armstrong. "Eu posso fazer do jeito que eu quero. Eu posso escolher onde quero filmar. Eu posso fazer coisas realmente estranhas e artísticas com isso." Os vídeos são uma fonte de renda importante para atletas como Armstrong, que estão fazendo fama fora do cenário das competições. Um exemplo recente foi "Shimmer," que abre com alguns grandes saltos em Kamloops, Colúmbia Britânica … ou, na verdade nós achávamos que eram grandes. Porque tínhamos nos esquecido de com quem estávamos falando.

 

"Foi uma bela estaçãozinha, aquela", ri Armstrong. "É divertido voltar aos saltos menores e trabalhar no estilo. Fazer coisas "off the lip" e ficar mais à vontade. E daí você pode passar às coisas maiores." Armstrong atualmente mora em Queenstown, onde há um monte de "coisas grandes" para pedalar. E ela é uma veterana de Dark Fest e Proving Grounds, que têm algumas das maiores coisas por aí. Então há suas participações na Formation, que combinaram quedas brutas íngremes ao ponto do impossível e "senders" de longa distância com velocidade absurda.

 

Vinny Armstrong no evento Red Bull Rampage feminino de 2024
Vinny Armstrong no evento Red Bull Rampage feminino de 2024

 

"No deserto você pode escolher sua linha. Você pode escolher o tipo de features que quer construir, que se adeque melhor ao seu pedalar", explica Armstrong. "Mas fica bem complicado. Você tem de confiar na sua própria construção e na sua equipe de escavação." Ocorre que seu irmão, Sam, é um membro da sua equipe, então ela provavelmente está muito bem no departamento de confiança. "Eu realmente só quero ir e me divertir na minha bike". A descrição de Armstrong de seus planos para o Rampage faz suas aspirações sobre-humanas parecerem quase acessíveis. "Eu quero ir construir algo onde eu possa ter o máximo de diversão e realmente exibir meu estilo de pedalar".

 

Falando em estilo, Armstrong é uma das muitas competidoras do Rampage usando um "mini mullet" de rodas de tamanho 26 na traseira e 27,5 na dianteira. Mas isso é uma coisa relativamente nova para ela. "Eu só as coloquei algumas semanas atrás, para experimentar. Normalmente eu usaria ambas de 27,5, especialmente em viagens, quando minha bike de freeride é minha bike para tudo. Mas eu coloquei a de 26 e foi uma loucura. Eu não acho que vou voltar à antiga." A nova configuração de Armstrong nos deixou ainda mais empolgados em ver sua suavidade característica em plena exibição no Rampage deste ano. "Eu gosto de bikes pequenas em geral. Elas me permitem mover a bike em qualquer direção, especialmente 'off the lip'. Ela salta instantaneamente na forma que quero fazer." De algum modo, ela inclusive faz parecer fácil. Mal podemos esperar para ver.

 

Robin Goomes

Para a maioria de nós, já há muita emoção simplesmente em dar alguns saltos. Qualquer um que precise fazer mais que um "whip" decente deve estar se exibindo para os juízes, certo? Bem, se conversar com Robin Goomes, você verá uma vontade de dominar truques que vão além de marcar as caixinhas. Ela vem de dentro e persiste muito depois de todos os percursos serem feitos e todos os pontos contados.

 

 

Robin Goomes, atleta de mountain bike freeride da Shimano no Red Bull Rampage feminino de 2024
Robin Goomes, atleta de mountain bike freeride da Shimano no Red Bull Rampage feminino de 2024

Goomes descobriu as mountain bikes por meio de amigos, no exército da Nova Zelândia. Ela serviu durante cinco anos, operando máquinas, desenvolvendo habilidades e até mesmo foi lotada na Antártida por algum tempo. Mas logo depois disso ela mergulhou de cabeça no esporte, trabalhando em uma empresa de guia de serviço completo ao sul de Rotorua, antes de um breve período de vida em van na meca de Queenstown.

 

Ali estão algumas das linhas de saltos mais animais", diz Goomes, com olhos brilhando e um amplo sorriso. "E há boas pedaladas e uma boa comunidade". Mas quando falamos com Goomes, ela estava na sua cidade atual, Rotorua. "O mountain biking aqui é bom. A floresta é boa para fazer trilhas." Exceto que não é por isso que Goomes está aqui. "O custo de vida é muito mais razoável e o objetivo é conseguir um terreno e montar um complexo de treinamento adequado, para que eu possa treinar realmente forte".

 

Goomes tem uma boa razão para querer um campo de treinamento no seu quintal. Embora seus primeiros passos no mountain biking competitivo tenham sido no enduro e DH, ela rapidamente começou a se mover para o slopestyle e freeride. Literalmente se mover, na verdade. Em 2021 ela se tornou a primeira mulher a fazer um backflip n a história da competição Crankworx. Então, apenas alguns meses mais tarde, ela já estava fazendo truques de flips combinados no Audi Nines (agora Swatch Nines). 2021 teve vários pontos altos para Goomes, um dos quais foi sua primeira vez na terra de Utah, na Formation, como alternativa.

 

Ela voltou à Formation em 2022, como participante. Seu percurso foi Robin Goomes no pico. Se sua enorme queda sem as mãos não faz você verter lágrimas, seu backflip final certamente vai. Mas também houve algumas passadas por cumes afiados como facas e quedas complexas. Ela espera criar o mesmo tipo de combinação no Rampage.

 

 

Atletas femininas da Shimano no Red Bull Rampage de 2024
Atletas femininas da Shimano no Red Bull Rampage de 2024

"Sim, eu tenho alguns truques na manga que quero colocar no meu percurso. Mas também quero exibir alguns aspectos menos conhecidos do meu pedalar. Eu acho que posso fazer as coisas técnicas e os 'grandes sucessos'."  A equipe de escavação por trás desse esforço vem de todo o globo, inclusive da Europa, Canadá e, é claro, Nova Zelândia. "Eu me sinto, tipo, um gerente de equipe", Goomes nos conta. "Onde estou gerenciando várias pessoas bem diferentes, de todos os cantos do mundo".

 

E essa é apenas uma das muitas razões pelas quais o Rampage deste ano é tão único. Ele está provando que esses competidores podem dar conta não apenas do terreno do Rampage, mas também do seu legado. "Porque este é o primeiro ano, e fazer parte disso é realmente especial. Eu sinto que este é o momento perfeito para eu estar neste planeta", diz Robin Goomes. "É animal".